No casarão de mais de dois séculos, no Centro de Mariana, dona Maria da Conceição Magalhães, de 83 anos, guarda, com carinho, receitas que aprendeu com a sua mãe, Jovita. Uma delas é o cuscuz doce, preparado em panelas de pedra que, de tão antigas, recebem uma engenharia especial para enfrentar o fogão a lenha e sair ilesas. Emendando duas vasilhas com um pouco da massa do cuscuz, a parte de baixo para a água e a de cima para o bolo feito com farinha de moinho d’água e açúcar mascavo, ela conclui a tarefa e sorri, modestamente, quando os viajantes elogiam o resultado.
Bom demais, uma verdadeira jóia barroca. Ajudada pela sua xará de 70 anos, que trabalha na casa há 40, dona Maria da Conceição explica que o queijo, cortado em pedaços, dá um toque especial ao cuscuz. Para obter o mesmo sucesso, atenção: é preciso fazer quatro camadas, intercaladas, terminando com o queijo, que derrete e se mistura aos demais ingredientes. Mostrando a hospitalidade da terra e o requinte da residência, as duas moradoras arrumam a mesa, com louças do tempo da vovó, porcelana fina nas xícaras e nos pratinhos.
No centro, vem o cuscuz, na panela que tem história e traz boas lembranças a dona Maria da Conceição, sempre pronta a atender encomendas e mostrar talento. Para variar, os viajantes ficam íntimos da casa e perdem a timidez, devorando, na tarde acolhedora, vários pedaços da iguaria.
– 1 kg de fubá de moinho d’água
– 3 xícaras (chá, cheias)de açúcar mascavo
– 1 xícara (chá) de mandioca ralada
– 3 xícaras (chá) de água fria
– 3 colheres (sopa) de óleo
– Erva-doce a gosto
– 1/2 colher (sopa, rasa) de sal
– 1/2 queijo-de-minas,em pedaços
Numa bacia, pôr o fubá, o açúcar, o óleo, a mandioca, a erva-doce (esfregar na mão quando acrescentá-la) e a água com sal.
Mexer com as mãos – a massa não pode ser nem mole nem dura.
Pôr a massa na parte superior do cuscuzeiro – serão quatro camadas, intercalando cuscuz e queijo – e, na de baixo, água quente, sem ferver.
Deixar no fogo por aproximadamente uma hora (fogão a gás) e duas horas (fogão a lenha).
Mapa dos Territórios Gastronômicos de Minas Gerais: o município de Mariana está localizado no Território Central/Entorno
As casas coladas uma às outras, o modo de falar e o jeito expansivo dos moradores mostram, de cara, a proximidade com a Bahia. Na comida, as influências também são visíveis nas boas mesas de Espinosa, a 690 quilômetros de Belo Horizonte. Com seu sorriso sempre aberto e frases espontâneas, Iraci Gonçalves dos Santos Mendes, de 42 anos, é a verdadeira “baianeira”, pois nasceu em Pindaí (BA) e mudou-se há 25 anos para a cidade, onde criou quatro filhos.
Muitos costumes permaneceram e ganharam força, como o de fazer o cuscuz doce diariamente, para saborear de manhã ou no almoço. “Acompanhado de chá de erva-doce, fica uma delícia”, conta a dona-de-casa, que comprou uma cuscuzeira brilhando de tão nova para receber os viajantes. “Mesmo no doce, é preciso pôr uma pitadinha de sal, pois, sem ele, é como se uma frase ficasse sem vírgula”, compara Iraci, ganhando aplausos da platéia, enquanto dá os últimos retoques no bolo.
As artes e mistérios da cozinha foram ensinados pela mãe, Etelvina, que também fazia o cuscuz salgado – para isso, basta substituir o açúcar da receita por meia colher (de chá) de sal, que fica tudo bem. Seria bom ficar horas conversando com Iraci, ouvir histórias, casos engraçados, mas chega a hora de partir. Com toda certeza, um dia a gente volta.
– 500 g de flocos de milho (Milharina)
– Uma xícara e meia de água morna
– 1 xícara (de café) de açúcar
– 1 pitada de sal
– Meia colher (chá) de erva-doce moída
– Meia colher (chá) de cravo moído
– 50 g de queijo-de-minas ralado
– 1 colher (de sopa) de manteiga
Numa tigela, misturar os flocos de milho e a água morna.
Deixar por 10 minutos.
Adicionar a manteiga, a erva-doce, o cravo e o açúcar e misturar bem.
O cuscuzeiro é uma panela dividida ao meio, com cozimento a vapor.
Na parte inferior, pôr água e, na parte superior, a massa, tomando o cuidado para não apertá-la.
Levar o cuscuzeiro ao fogo por aproximadamente 15 minutos ou até que o cuscuz esteja firme.
Tirar da fôrma e servir.
Mapa dos Territórios Gastronômicos de Minas Gerais: o município de Espinosa está localizado no Território Espinhaço/Sertão Rio Pardo
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