Coluna

Natal: o encontro em torno da comida

*Por Rafael Duarte
Professor de Literatura
@rafaelduarte_silva

Eu não sou muito de Natal, confesso. A minha admiração sobre a perspectiva religiosa do evento se deve à formação familiar que tive, apesar de não ser religioso e nem de me dedicar às moralidades católicas. O que eu não gosto mesmo é desse ar consumista que paira, como uma nuvem, em todo o mês de dezembro, nos arrastando para as compras. Parece que o importante é comprar qualquer coisa: da lembrancinha ao presentão, das meias vermelhas ao celular da moda.

Por outro lado, eu adoro o mínimo motivo pra reunir os amigos; pra me preocupar com o que vestir, ainda que seja só pra ficar em casa; pra também reencontrar aqueles que, faz tempo, eu não vejo; pra me empanturrar de comida e acordar na hora do almoço no dia 25. Eu gosto muito dessas “desculpas” pro encontro em torno da comida. Isso não tem preço.

Minha grande questão desse ano é a seguinte: Tarsila vai passar o Natal comigo e eu não sei o que fazer pra comer. Na verdade, acho uma maravilha esse acontecimento, pois, no último ano, minha filha esteve na casa dos avós maternos em outro estado, mas agora ela vai estar comigo (emoji de coraçãozinho)! Nesse caso, devo programar, além da tal ceia da virada do dia 24 para o 25, algum presentinho pra ela rasgar o embrulho achando que o Papai Noel quem trouxe do Polo Norte.

Foto: Pixabay

Apesar de já ter acompanhado uma diversidade de natais, com formatos que vão dos mais inusitados aos mais tradicionais, nenhum deles tirou a dinâmica da cozinha: algumas horas no supermercado lotado, algumas horas picando cebola bem pequenininha, longas horas assando alguma coisa no forno com medo do gás acabar, um tempo descascando legumes e misturando o salpicão, outro tempo (escondido) diminuindo as uvas-passas enquanto outros aumentam a quantidade. Isso tudo está além da organização do freezer para as bebidas e para a sobremesa que nunca cabem naquele cubículo. Ah! E ainda tem a correria pela cidade em busca de gelo, o artefato que sempre fica pra última hora (impressionante!). Além, é claro, daquele amigo-oculto improvisado com que – usando esse espaço pro desabafo – eu não me dou bem. Não mesmo.

Eu, de verdade, faria logo uma macarronada, espalharia os brinquedos pelo chão, ligaria o som bem alto com uma música animada e me divertiria horrores com Tarsila. Essa é a minha expectativa, mas a realidade é outra: impossível não me preocupar com a formalização dessa data histórica que possui um peso social grande para as crianças e outro peso econômico grande para os adultos.

Diante desse impasse, vou recorrer à ajuda dos gastrônomos: @chefrogerioduarte, me salva? A Tarsila adora biscoito frito, banana e sorvete. Nem sei se existe receita assim, mas, tenho certeza, de que essa criança especial adora estar no meio da família brincando com os tios babões. A outra coisa é que, eu sei bem abrir as garrafas de vinho ou de cerveja, no entanto, não tenho tempo de cozinha como tenho de sala de aula, logo, não sei o que fazer. (emoji de carinha mostrando os dentes de preocupação).

Tenho certeza de que ele vai me ajudar (pelo menos, espero que me indique uma receita simples, rápida e divertida). Tenho certeza, também, de que todos irão se cuidar nas festas de fim de ano, com o uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento. O fim do ano é um tempo de união, claro, mas, na circunstância em que estamos, esse tempo se torna um momento de cuidado, de atenção e de consciência. Não coloquem vidas em risco. 180 mil mortes, ao contrário do que se conta sobre o senhor barbado de roupa vermelha, não é uma ficção. Porém, se é que eu posso, ao menos dessa vez, me furtar ao sistema natalino, que o bom velhinho agilize a vacina contra a Covid-19.

Rafael Duarte é colaborador do Territórios Gastronômicos

Foto de capa: Pixabay

Veja sugestão dos Territórios para um delicioso presente de Natal

Territórios Gastronômicos

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