Por Rafael Duarte
Professor de Literatura
rafaelduarte_silva*
Comer é algo realmente fascinante. Nesse exercício, os prazeres são estimulados e as fantasias são colocadas em jogo tanto por aquele que propõe quanto por aquele que se submete à espera. Existe um contexto de excitação criado por diferentes situações que envolvem esse ato: a expectativa e a composição do prato. A interação com os alimentos. O manuseio dos objetos. O contato com a água e com o fogo. O gesto de comer, ao meu olhar, é um movimento erótico.
A mecânica de cozinhar coloca em cena o atrito entre corpos. Lavar os legumes os esfregando cuidadosamente enquanto se imagina como serão descascados, sobrepostos e aquecidos. Definir o melhor corte para que juntos sejam postos em uma travessa como se deita em uma cama. Cobri-los com alumínio ou deixá-los livres para que, com o calor, transpirem e ganhem outro tom, outra cor, outro gosto. Isso, pois, banhados pelo azeite e pelos temperos, depois de despidos, vestem uma nova roupagem.
Há algo de bonito na agilidade das mãos ao cortar os alimentos. O modo como a faca penetra naqueles mais macios e constrói um percurso lembra o caminho feito com os dedos pra desenhar um carinho nas costas de alguém. Assim como retirar as sementes de uma fruta, soa como desabotoar botões com o desejo de que logo acabem e se descubra o corpo nu, entregue, exposto. Disso surgem dois outros movimentos: chupar a fruta ou mordiscá-la pouco a pouco até que escorra, pelo queixo, seu sabor; ou, se ácida, misturá-la ao gelo e ao gin e esperar por arrepios.
Observar o modo como se monta um prato e o serve à mesa também me deixa tomado por essa atmosfera. Fico encantado com o fato de pensarem sensivelmente no lugar em que deve estar cada elemento, isso porque, antes, quando colocado frente aos olhos, tudo será devorado sem pudor algum, sem protocolo, sem amarra. Existe, parece, que há uma única regra: se deliciar com o cheiro. Na sequência, essa ordem ganha a função de promover que toda garfada seja certeira e o pico de sabor seja alcançado já na primeira mordida. Diante disso, não consigo criar outra analogia que não seja a de preparar o quarto, estar atento à luz, aos sons, aos espelhos e ao conforto.
No meio disso tudo, existe uma imagem que adoro admirar: a boca entreaberta, os dentes um pouco à mostra, a língua timidamente projetada sobre os lábios, a saliva se acumulando, os olhos fechados e as mãos conduzindo esse quadro cinematográfico. Em seguida, já com a boca se movimentando, é gostoso escutar um leve gemido de prazer junto de um suave inclinar da cabeça como confirmação da beleza que é comer.
Enquanto escrevo, sigo apertando os dentes, com a boca salivando, acariciando o peito e as pernas, inquieto e um pouco ansioso. Fico por aqui, mas logo esse tema será retomado. Ele merece um cuidado longo e carícias. Muitas.
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Li e reli algumas dezenas de vezes.