Por Eduardo Avelar*
São tantas as variações de pratos simples e regionais pelo mundo, que se tornaram referencias internacionais e tem sido reproduzidas com orgulho nas mesas dos grandes restaurantes pelos chefs de cozinha de toda parte.
Um exemplo clássico é o ratatouille francês, conhecido em suas diversas versões, variações sobre o mesmo tema, legumes da estação, misturados com azeite, salteados ou assados com ervas frescas.
Uma dessas receitas emocionou o crítico gastronômico Monsieur Ego, no filme que leva o mesmo nome do prato (Ratatouille), quando o ratinho cozinheiro preparou um delicioso guisado de legumes característicos do interior da Provence na França levando o exigente profissional às lagrimas com suas memórias afetivas de infância.
Essa é uma questão cultural que estamos abordando insistentemente junto aos alunos de faculdades de gastronomia, aos demais cozinheiros e ao público em geral que, em sua maioria, ainda reluta em valorizar e levar para os grandes restaurantes, ou para as mesas mais sofisticadas, as receitas simples de nossos quintais. Receitas essas, que foram criadas e preparadas em cada canto do país ao longo de nossa história, e que também nos remetem a deliciosas memórias dos sabores de infância.
Esta é uma missão importante, já assimilada por vários chefs profissionais do Brasil, que tem buscado nas suas raízes, os sabores locais e aplicando novas técnicas para levar para os salões mais nobres, legumes e ervas tão simples e comuns em cada região do Brasil.
Por aqui, em Minas Gerais, temos o chuchu, o quiabo, a abobrinha, o maxixe, e as ervinhas como funcho, hortelã, coentro, salsa, pimentas como a rosa ou semente de aroeirinha, dentre outras maravilhosamente picantes (malagueta, bode, cumari, pimenta de cheiro, pimenta de macaco,etc).
Além desses singelos ingredientes, especiarias como o açafrão da terra, os novos azeites especiais mineiros, as tradicionais banhas de porco e as manteigas de garrafa do norte do estado, podem nos proporcionar experiências bem nobres e inesquecíveis .
Hoje o Territórios Gastronômicos apresenta uma dessas receitas antigas para inspirar os cozinheiros curiosos de plantão e instigá-los a criar seu ratatouille predileto, ou guisadinhos como diziam os antigos, mas sem se esquecer do angu e do feijão, ingredientes que escreveram a rica história das cozinhas de Minas Gerais nesses 300 anos.
Da Série: Receitas Históricas de Minas Gerais*
– 1 abobrinha picada em cubinhos
– 2 chuchus picados
– 500 g de quiabo picado
– 2 jilós picados
– Gordura de porco para fritar
– Tempero a gosto
– Caldo de galinha
Em uma panela, dar um choque no quiabo em gordura quente, suficiente para cobrir. Isso vai impedir que ele babe. Retirar e deixar escorrer bem e secar em um papel toalha. Em outra panela, aquecer duas colheres (sopa) de gordura, pôr o tempero, o caldo e os legumes. Pingar água até que todos estejam macios. Servir com angu.
A aventura pelos sabores de Caeté se aproxima do momento da despedida. E, para completar a bagagem, nada como uma comidinha simples, mas repleta de paladar, como os guisados. Legumes refogadinhos, tempero e alegria. Feijão novo, angu e arroz para acompanhar. Do fogão, o carinho que dá o tom. E na mesa, a satisfação com o que é trivial, mas não deixa de fazer salivar. Combinando todos estes elementos, a caeteense Edna Barcelos Sena vai para a cozinha para repetir a receita preparada pela mãe nos almoços da infância.
Abobrinha, chuchu, quiabo e jiló se combinam com harmonia na panela e agradam quem está na fila já com o prato à mão. Junto com a colega Renata Steling, Edna apresentou a iguaria no 1º Festival de Guisado de Caeté, que agraciou o público com clássicas receitas caseiras.
A mala dos viajantes é fechada com mais essa saborosa lembrança. De Caeté, fica imagem de uma terra cujo ouro, hoje, é a gente que lá vive.
Mapa dos Territórios Gastronômicos de Minas Gerais: o município de Caeté está localizado no Território Central/Entorno
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Maravilhosa reportagem. Nós mineiros temos que nos lembrar das nossas origens. TEMOS QUE COLOCAR ESTAS RECEITAS EM UM LIVRO PARA NÃO PERDERMOS AS NOSSAS ORIGENS. TEMOS QUE TER UM PROGRAMA DE TELEVISÃO DE ACESSO NACIONAL PARA MOSTRARMOS AS PESSOAS O QUE SÃO 300 ANOS DE HISTÓRIA GASTRONOMICA.
Obrigado pelo comentário Sergio. Outras deliciosas receitas simples de nossa história gastronômica serão publicadas nesta série em comemoração aos 300 anos da Capitania das Minas Gerais.