Por Simone Lopes da Cunha Frank
Ganhei uma caixinha de jóias! Preciosas relíquias mineiras lapidadas com maestria nos tachos centenários aqui do interior das Minas Gerais. É um tesouro valioso, que encanta os sentidos. A única maneira de preservá-ló é compartilhando seu valor.
Venham! Vou lhes mostrar a doce mina dessas jóias: a casa da Adriana Silveira, de 48 anos, guardiã dos segredos das tradicionais das doceiras do nosso estado.
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Ela nos recebe com um enorme sorriso no rosto :“ Entra ! A casa é sua! “. Ao adentrar a casa ouvimos rangido bom de assoalho antigo e aquele barulhinho borbulhante de calda de doce sendo feito em tacho de cobre, sentimos um cheirinho que transporta a gente para um lugar de ternura, aconchego e sabor.
A casa é das antigas, com horta grande, folhagens pela sala. Da janela da cozinha, avistamos as igrejas Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida. Na nossa frente uma mesa gigante, repleta com os mais variados doces: abóbora, mamão, banana, coco, pé de moça e de moleque prendem nosso olhar.
A história dos doces mineiros se mistura com o surgimento do nosso Estado, no ciclo do ouro, entre o final do século XVII e início do século XVIII.
Aqui na região Sul, a tradição surgiu com as fazendas coloniais e suas festas de devoção, casamentos e batizados, não faltavam mesas repletas de doces cristalizados feitos com as frutas da estação ou leite nosso ouro branco, sempre abundante por aqui nos rendendo o status de Estado do Doce e do Queijo.
Adriana conta, que desde menina via a avó , a mãe e as tias fazendo doces. Com elas aprendeu os segredos de cada um: os aromas, as cores, as formas, o ponto e o jeito certo de cortá-lo, e principalmente a escolher bem cada fruta que vai para o tacho.
Adriana é uma das ultimas mestras doceiras da cidade, apaixonada por sua arte, zelosa com a tradição. De temperamento alegre, espontâneo e gentil, nos explica que a venda dos doces, que é sua única fonte de renda, com ela mantém a casa e 3 filhos. “Meu sonho é ver meus filhos estudarem, se formarem. Eu não pude estudar, precisei trabalhar duro na roça. Faço e vendo doces por causa eles, não tenho ajuda de ninguém! – O doce é o sustento aqui de casa”.
Ela nos contou que muitas vezes pensa em desistir: “não tem como competir com a indústria, que mistura farinha de trigo, goma Xantana, um tiquinho de fruta e uma tonelada de açúcar e margarina, lógico que fica mais barato, rende muito mais! Mas doce verdadeiro isso não é! Só não aposentei meu tacho ainda, porque gosto de servir meus clientes. Aqui na minha casa eles ainda podem comer um doce bem feito, do jeito de antigamente. Muitos também me procuram quando querem presentear alguém, por isso tenho prontas caixinhas artesanais pra presente e cartuchos belíssimos. Faço questão de preservar a tradição!”
Os ingredientes básicos dos doces da Adriana são : 50% frutas in natura que ela compra nas fazendas e sítios da região, de preferencia ainda pé, ou leite in natura de que ela compra de produtores conhecidos seus. Os outros 50% do doce é feito com açúcar cristal. Não há Nenhuma adição de conservante, corantes ou aromatizante.Doce na sua receita original !
Quem estiver por aqui ou viajando pela MG 050, pode chegar! Garanto que visão da mesa de doces mineiros tradicionais que você vai encontrar é como vislumbrar ouro e pedras preciosas e um sabor que nos transporta para as Minas de antigamente…
Rua: Dom Inácio Dalmont, nº 251- bairro: Carmelo – Passos MG
Se você como eu, tem um baú com receitas que são verdadeiros tesouros, Adriana nos presenteou com dois dos seus. Guardem aí!
Coloque o açúcar em uma panela. Em fogo médio, deixe o açúcar derreter até ficar na cor do caramelo.
Acrescente o leite. Mexa com uma colher de pau, sem parar para não queimar.
Deixe cozinhar até o ponto de puxa.
Desligue o fogo. Com uma colher de pau e mexa bastante, ou seja bata o doce.
Quando perceber que o doce está ficando areoso, pesado acrescente o amendoim inteiro, mexendo para agregar.
Estique um plástico em um tabuleiro. Unte com um pouquinho de manteiga. Pingue os doces com uma colher. Espere esfriar e sirva.
Corte o mamão (pode deixar a casca se preferir) em cubos de mais ou menos 4×4 cm. Coloque de molho em 2 litros de água e 1 colher de bicarbonato por 3 minutos, (para dar casquinha no doce). Escorra num escorredor de massas enxaguando. Fure os cubos para o açúcar penetrar.
Leve ao fogo e dê uma pré cozida só com água, cozinhando ao dente como macarrão. Mais ou menos 1 hora (ele fica durinho por fora e molinho por dentro). Não precisa ficar mexendo. Quando estiver cozido deixe descasar por 24 horas coberto com um pano. Depois escorra a água.
Em tacho de cobre ou uma panela grossa coloque o açúcar, os cravos, a canela e cubra com água, deixe engrossar, até o ponto de bala.
Coloque os pedaços de mamão na calda dê uma fervida de uns 30 minutos. Vá espetando o garfo para ver se está molinho.
Retire da calda os pedaços os pedaços, deixando a calda escorrer. coloque rapidamente em um tabuleiro e polvilhe com açúcar cristal. Deixe secar e sirva.
Simone Lopes da Cunha Frank
Autora da coluna Panelas e Causos: Cozinheira, quitandeira, apaixonada por gente e suas histórias, causos, receitas, e fotografias.
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